domingo, 21 de novembro de 2010

Pequena análise de uma reportagem da Veja sobre Tropa de Elite 2

Na revista Veja (edição 2190 - ano43 - número 45 de 10 de novembro de 2010) a reportagem de capa é sobre a mais nova produção cinematográfica brasileira: Tropa de Elite 2.

A reportagem de nome "O PRIMEIRO SUPER-HERÓI BRASILEIRO", trabalha na construção do Capitão Nascimento (personagem principal do filme) enquanto sendo a figura de um herói.
Isso a despeito de o mesmo aceitar a tortura de prisioneiros como diz o próprio José Padilha (Diretor do Filme) "Ele tortura inocentes e mata pessoas que deveria prender. Não tem as virtudes morais que o senso comum exige de um Herói". Mas, para rebater o diretor a revista diz: "Mas um herói - em particular, um herói de ficção - não precisa se apresentar como um ser humano exemplar, de moral irretocável.(P.127)"
Ou seja, a revista transforma Nascimento em um Herói, e diz que o único problema do filme é que ele "desaponta: na invocação de uma ide ia de "sistema", cuja engrenagem perversa seria tão carregada pela inércia da corrupção e da ineficiência que giraria sozinha, a despeito de tudo e de todos. Mas não há "sistema" (segundo a revista): o que há é a soma das ações dos indivíduos (P.127)", assim mesmo elogiando o personagem principal, a revista faz uma crítica ao filme, reproduzindo uma noção individualista do capitalismo, onde se coloca que o individuo é dono completo de sí mesmo.

Como se ele não fizesse parte de um tempo histórico e de uma realidade social. A frase:"... a soma das ações dos indivíduos,..." reproduz uma visão de mundo que para a revista já é de praxe (é só observar o histórico de posições da revista em suas reportagens), onde o problema das mazelas do planeta são única e exclusivamente de cunho individual.

E ao você colocar a culpa sobre todos, você dissolve a culpa como açucar na água, e assim ela p assa a ser de ninguém, naturalizando assim o que se vê por aí.

Se a pessoa não tem emprego, o problema é por que ela não procura ou não se aperfeiçoa, não existe (para a revista) a possibilidade de sequer cogitar a avaliação de que o sistema econômico precisa do desemprego na figura de um exercito indústrial de reserva. No mesmo sentido se existe corrupção é por que o indivíduo é corrupto, e não por que existe um sistema que naturaliza a corrupção pondo o lucro (venha ele da maneira que vier) sempre acima do bem estar coletivo e da vida.
Percebe-se também na reportagem (uma reportagem de capa com 8 páginas) a ausência completa do nome do personagem Marcelo Fraga (Deputado Estadual que junto com Capitão Nascimento combate as milícias) apesar do mesmo atuar em conjunto com o Capitão Nascimento no filme. E se há ausência do personagem o que se dirá da pessoa que inspirou o personagem, o deputado do PSOL Marcelo Freixo?

Ao não citar o Deputado Fraga a revista deixa de trabalhar as conexões existentes entre o Estado e as milícias, a única menção que a reportagem faz a corrupção política é quando menciona a surra que o personagem Capitão Nascimento dá em um político corrupto, pautando assim o problema da milícia e da corrupção como sendo um problema de ações individuais de políticos e/ou políciais corruptos.

Assim, apesar do filme faze-lo, a reportagem não trabalha as conexões das milícias com grupos políticos, e o fato de que estas estão inseridas dentro do Estado seja através de representantes eleitos, ou membros dos altos escalões da administração civil e militar, e a maneira como estas nasceram patrocinadas pelo próprio Estado e incentivadas pelo sistema.

Mas, pelo cunho da reportagem esta ausência já era esperada, pois se ela fosse trabalhar esta questão, ela estaria caindo em contradição ao invocar os problemas das milícias como sendo única e exclusivam ente um problema moral de policiais corruptos, e teria de admitir a existência do sistema (capitalista), assim como teria de ao menos mencionar o nome de um Deputado de um partido de esquerda que vêm combatendo este sistema: O Deputado Marcelo Freixo do Rio de Janeiro.
Em resumo, a reportagem da Veja desvirtua completamente o sentido e a lição que o filme Tropa de Elite 2 quer passar para o público: A lição de que existe um sistema por trás das ações individuais, que pauta muitas vezes estas ações na intenção de uma continuidade. A lição de que o Estado, não passa muitas vezes, de um braço organizado para a manutenção de uma economia que faz da "segurança pública" uma segurança de morte.

E que o problema das milicias e da corrupção, seja na polícia ou em qualquer outro setor do governo, vai muito além da questão moral do individuo, mas que a corrup ção é sangue que nutre o Sistema Economico Capitalista, ele não pode viver sem ela.

Afinal, corrupto também consome, e o que vale nesse sistema é o consumo e não a moral ou a vida!

Só haverá fim da corrupção (em nível geral) quando a vida estiver acima das questões econômicas, quando desastres que matam pessoas não serem mais (por exemplo) contabilizados em prejuízos de dólares!
Fica a lição do Filme e não da revista!
E fica o orgulho de ter no país um partido (PSOL) e um Deputado e militante como Marcelo Freixo, se a revista não lhe deu o destaque e o agradecimento merecido, eu o faço aqui!

E de forma individual, fica o orgulho de fazer parte da base deste partido e de certa forma ter Marcelo Freixo como camarada!

Assinado:
Luciano Egidio Palagano
Marechal Cândido Rondon  - PR
Presidente do Partido Socialismo e Liberdade de Marechal Cândido Rondon
Militante da Pastoral Operária, Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado do Paraná (APP - Sindicato)
Movimento Estudantil da UNIOESTE
Acadêmico de Direito e História  - UNIOESTE Campus de Marechal Cândido Rondon - PR.